terça-feira, 16 de abril de 2013

Gregório José


O homem no pote de barro
 
Gregório José
 
Conheci um emérito professor universitário nos tempos em que estava na Rádio Universitária de Uberlândia. Sempre que podia estávamos conversando sobre política, economia, cultura e a vida, em si. Uma pessoal formidável. PHD em economia, viajado, conhecera diversos países e culturas. No fundo, uma pessoa simples, trabalhadora e competente. Viera pra Uberlândia para encontrar um pouco de paz e sossego, longe da capital Paulista, de onde viera. Preferira ficar instalado no Triângulo Mineiro á correria desenfreada de São Paulo, dizia sorrindo. Seus alunos o tinham como uma mente brilhante. Suas aulas eram quais palestras, dinâmicas, vivas e cheias de nuances enigmáticas que levavam os alunos a correr às bibliotecas em busca dos compêndios citados. Matemático de primeira fazia cálculos dos mais absurdos em segundos. Depois conferia no papel para ratificar a resposta. Andava com um jeans roto e uma camiseta branca ou camisa listrada pra fora da calça. Andava de ônibus e deixava o carro para os finais de semana. “É bom pra conhecer pessoas novas. Ver a cidade com tranquilidade e escutar os casos mais pitorescos e engraçados que se comentam dentro dos ônibus”, dizia ele. Apesar de não ser idoso, tinha o semblante envelhecido. Começara a estudar ainda na juventude, mas correra contra o tempo e se tornara um professor respeitado. Era de uma sabedoria incalculável. Citava os pré-socráticos como se colegas fossem. Sabia a posição das estrelas e planetas, das flores e animais. Uma verdadeira mente brilhante. Acontece que, embora transmitisse aos seus alunos e amigos seu conhecimento, não ensinava o pulo do gato e a idade chegou. Faleceu em Santos e, a seu pedido, teve o corpo cremado. Aquele homem sábio e especial fora reduzido a pó. Hoje suas lembranças e conhecimentos estão cerrados em um pote de barro queimado. Fica em cima de um móvel na casa da família e a empregada reza o “Pai Nosso” toda vez que vai limpar o vasilhame. Assim se encerra uma vida proeminente e culta. Será que tudo se perde, ou haverá algo especial além deste nosso momento?
 
Radialista e jornalista
 
Gregório José - 8817-8845

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