domingo, 31 de agosto de 2014

REPORTAGEM ESPECIAL

REPORTAGEM ESPECIAL

Revitalizado, Centro de Tecelagem Fios do Cerrado é entregue à população

Espaço passou por ampla reforma, troca do telhado e ganhou loja de produtos, café, academia ao ar livre e parquinho infantil


A milenar arte da tecelagem pode ser comparada às digitais dos tecelões que imprimem cada um, ao seu modo e gosto, a estética e o formato das peças produzidas. Como forma de valorizar 20 cidadãos envolvidos no artístico e paciente trabalho de tecer, a Prefeitura de Uberlândia, por intermédio da Secretaria de Governo, entregou nesta quinta-feira (28) o Centro de Tecelagem Fios do Cerrado, no bairro Patrimônio. Também foi uma forma de revitalizar o espaço onde os artigos são produzidos e oferecer à cidade em seu aniversário de 126 anos mais uma opção de compras, lazer, esporte e cultura.
O espaço onde antes funcionava o Centro de Fiação e Tecelagem foi totalmente revitalizado e agora conta também com loja, academia ao ar livre e parque infantil. Outras novidades serão a cafeteria, com previsão de entrar em funcionamento no mês de setembro, e a promoção de cursos e oficinas para manter a tradição do tear com as futuras gerações.
            “Muitas pessoas disseram que o Centro seria fechado, mas na verdade a ideia era dar aos tecelões um lugar mais digno de trabalho, e à população, um local mais agradável, com conforto e lazer”, disse a secretária de Governo, Rosângela Paniago. Segundo ela, a nomeação Fios do Cerrado é por causa da grande utilização de fios deste ecossistema.
Criado no ano de 1992, na gestão do então prefeito Virgílio Galassi, o Centro recebeu agora, com mais de 20 anos de existência, sua primeira grande requalificação. As obras que iniciaram em dezembro de 2013 tiveram investimentos no valor de R$ 700 mil. Durante o período, preocupada com a continuação do serviço e o empenho de quem se dedica a ele, a equipe da Secretaria de Governo realocou os teares para o saguão do Centro Administrativo Municipal. Foi um avanço para todos, uma vez que o trabalho ganhou mais visibilidade e notoriedade ao ser divulgado pela imprensa e descoberto por milhares de pessoas que diariamente frequentam o espaço público.
No Centro Administrativo, foram produzidas mais de duas mil peças e os trabalhos de urdir, cardar, fiar e tecer fizeram parte também do dia a dia dos servidores, embalados pelo som dos teares. A interação foi tanta que, antes de voltar para o Centro de Tecelagem, as 19 tecelãs e um tecelão percorreram todas as secretarias municipais e se despediram com abraços e sorrisos e uma mostra de artesanato para cada secretário.
“Estamos cuidando de nossa história com trabalhos que prezam pela nossa gente. Vamos continuar com ações que, principalmente, cuidam das pessoas e se projetam no futuro”, disse o prefeito Gilmar Machado.

Estrutura totalmente revitalizada

O Centro de Tecelagem Fios do Cerrado está localizado em uma área de 1.200 metros quadrados. Além de ser um lugar repleto de tradições, o local agora é impulsionado como ponto turístico. Uma mudança significativa é a entrada. Antes, a portaria era acessada pela avenida Francisco Galassi, e agora foi transferida e ganhou mais visibilidade pela avenida Rondon Pacheco, uma das mais utilizadas por condutores de Uberlândia e outras cidades.
A loja para venda dos produtos confeccionados foi aprimorada com disposições amplas e de alto estilo. Uma cafetaria foi adicionada ao projeto e para acessá-la, assim como a loja, um deck foi criado para dar caracterização diferenciada às duas áreas.
Toda a estrutura foi pintada, novas portas foram instaladas e o telhado foi completamente trocado. As antigas telhas de amianto foram substituídas por termoacústicas, que reduzem gastos com energia, refrigeração e controle de emissões sonoras. A parte elétrica foi refeita, assim como a iluminação, e os sanitários foram completamente reformados. Ainda na parte interna, o jardim de inverno passou por revitalização na íntegra.
            Já na área externa, onde fica uma pequena praça, a pavimentação e o calçamento foram trocados e novos bancos e mesas de jogos foram instalados. A praça também passa a contar com academia ao ar livre e playground. Quanto ao paisagismo, uma nova arborização foi pensada para o espaço.

Centro foi inaugurado em 1992

            O Centro de Tecelagem foi criado no ano de 1992. De acordo com a secretária de Trabalho e Ação Social da época, Niza Luz, que participou da fundação do espaço, o projeto foi concebido durante o mandato do prefeito Zaire Rezende (1983-88) e colocado em prática durante o exercício do prefeito Virgílio Galassi (1989-92). Ela conta que foi um resgate da cultura geral e também regional e que se sente honrada em ver que o trabalho deu excelentes frutos.
“Quando o tear foi lançado pela humanidade, ele foi uma inovação. Atualmente, depois de tanto tempo, várias tecnologias surgiram e desapareceram, mas ele continuou. Por isso eu digo que é uma tecnologia permanente, independente da época de sua produção, e que muito dificilmente desaparecerá”, disse.

Histórias dos tecelões se confundem com o Centro de Tecelagem

O Centro de Tecelagem Fios do Cerrado é um espaço da Prefeitura de Uberlândia administrado pela Fundação Cultural e Assistencial Filadélfia. Ele também é um projeto social, cultural e educacional que oferece oportunidade de emprego aos tecelões. Com 88 anos de idade, Geralda Ferreira da Silva aprendeu a tecelagem com sua mãe quando morava na cidade mineira de Lagoa Formosa. Em Uberlândia, há 25 anos ela descobriu por intermédio de uma amiga um trabalho de tear que tinha na Escola Estadual Américo René Giannetti. “Precisavam de uma tecedeira e eu fui a solução. É um trabalho maravilhoso que vou fazer enquanto estiver com condições físicas”, garantiu.
Sua companheira de produção, Aparecida Reis, de 66 anos de idade, conta que a tecelagem entrou em sua vida para suprir necessidades. Há 22 anos ela precisou trabalhar fora de casa e a solução foi a tecelagem. No início, ela achou difícil e pensou que não daria conta. “Hoje não vou mais parar. Seria a mesma coisa que interromper um amor”, diz.
Único tecelão no grupo, o auxiliar de serviços gerais Genile Ferreira da Silva, de 51 anos, se encantou com a tecelagem desde quando a viu pela primeira vez. “Vim da cidade de Governador Valadares e em 2004 conheci o trabalho em Uberlândia. É algo tão belo que nunca vai desaparecer, mesmo sendo um trabalho milenar”, disse.

Tecelagem exige dedicação

Antes de chegar ao tear, o algodão passa por métodos manuais de preparação. Inicialmente, ele é batido para abrir a pluma. Em seguida, vem a fase de cardar o algodão e deixá-lo uniforme para depois fazer o fio na roda, com a espessura desejada. Depois de urdido, o fio é levado para o tear e em seguida é feito o acabamento. É quando a peça passa pela última etapa de preparação. Quem define a forma da peça a ser criada é o tecelão. Ao dispor os fios no tear, ele pode produzir tapetes, forros, guardanapos, revestimentos para estofados, mantas e outros artigos. Tudo depende da imaginação de quem comanda o tear, todo montado com madeiras encaixadas, rústicas e sem parafusos, porém firmes e eficientes para o trabalho.



Funcionamento:

- Visitação: Segunda a Sexta-feira, das 7h às 18h.
- Espaço de produção: Segunda a Sexta-feira, das 7h às 12h30
- Espaço de Vendas: Segunda a Sexta-feira, das 9h às 18h e Sábado das 9h às 13h


Fillipe Alves e Marden Rangel

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